quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O FIM DA ARQUITECTURA DO EGO!

O sistema de financiamento que impulsionou o BOOM da construção global degenerou, nós, hoje, assistimos à ultima década de um agradável sonho que podia ser comprado, construído e justificado. Para muitas pessoas em Portugal e em vários países ocidentais, estes anos foram um devaneio de credito fácil, de hipotecas com taxas ajustáveis, que mascararam salários estagnados e a endémica desigualdade. Esta quantidade de dinheiro fácil deixou uma marca efectiva no solo, podemos observa-la nos restos de riqueza alucinada que ainda nos rodeiam. Naturalmente, o ambiente construído é irreduzível a um único ponto ou a uma única análise: As cidades são concentrações de Homens, de necessidades, de possibilidades, com uma grande capacidade de organização, transformação e transmissão de bens e informação, são acréscimos do que foi projectado, resultado do improviso, do escolhido e recebido, do que é imaginado e do que é experimente. Da mesma forma, o conceito de urbanismo hoje excede qualquer noção fixa do século XX, englobando tecnologia e favelas, habitações uni-familiares e torres de escritórios.
Parece-me necessário avaliar as tensões, os espaços e a vida produzidos, analisando a nossa situação urbana actual e o que está para além dela: a cidade do passado e seu futuro, o centro histórico, o suburbano, o peri-urbano, etc., etc. O reinado de arquitectura do ego do financiamento hiper-capitalista chegou ao fim, desta forma é necessário, a arquitectura oferecer formas alternativas e perspectivas de urbanismo. Mais do que nunca, precisamos de um urbanismo que olhe para trás para seguir em frente, que considere as vozes daqueles que, sem o poder de construir e as ideias dos arquitectos construíram modestamente, criticamente, do nada... chegou o momento do acerto de contas, para (re) imaginar as paredes com as quais construímos o nosso mundo e as janelas através das quais o vemos.

imagem via:
flirck

domingo, 14 de novembro de 2010

LIFE MACHINES

Uma imagem que dispensa legenda, que nos põe a pensar... O automóvel continua a ser, na maioria das cidades portuguesas, o principal responsável pelo congestionamento, ocupação de ruas e praças, originando dificuldades de mobilidade e contribuindo para a ineficiência ambiental com graves resultados para o bem-estar e qualidade de vida dos centros urbanos.
A cidade portuguesa tem evoluído, quando comparada com as suas congéneres Europeias, a um ritmo lento para as necessidades reais de mudança. Podemos dar algum destaque a exemplos como Aveiro ou Cascais, onde se nota o incentivo à utilização dos velocípedes como meio de transporte urbano, ao observar o esforço na criação de condições favoráveis com a alocação do espaço público para o transito de bicicletas, oferta de zonas de parqueamento e disponibilização de bicicletas de uso público... amargo é, ver esta promoção ser feita essencialmente pelos municípios onde a promoção por parte do Estado é nula. O encorajamento do uso da bicicleta, além de contribuir para a redução de gases poluentes e dos seus efeitos, salvaguarda recursos, cooperação, envolvimento e participação pública, respeito pelas necessidades sociais, económicas e ambientais, contribuindo para ganhos de saúde para os seus utilizadores.
Acho, que deve-mos olhar para uma Europa carregada de bons exemplos nesta matéria, segundo o artigo elaborado pelo ex-presidente da FPCUB, José Manuel Caetano, sobre «O papel da bicicleta na mobilidade urbana», em cidades como Ferrara (Itália), Amesterdão (Holanda) e Berma (Suíça) temos taxas de utilização de 31, 20 e 15% respectivamente (sublinhe-se o caso de Berma, onde o declive médio das suas vias é de 7%).
De modo geral, quando se pensa no tipo de soluções a adoptar para uma correcta integração da bicicleta no sistema de transportes, deve ter-se em conta a rede viária pré-existente.
A escolha das soluções a adoptar para uma correcta circulação de velocípedes está, em primeiro lugar, dependente das políticas de ordenamento no que respeita à velocidade de circulação de veículos motorizados e aos volumes de tráfego praticados em cada eixo rodoviário. Uma vez definidos os eixos e zonas da cidade onde o limite de velocidade seja reduzido é possível estabelecer as tipologias que melhor servirão à circulação de bicicletas.
Existem diferentes conceitos de ordenamento das vias – a mistura, a separação e a exclusão – que melhor se adaptam à especificidade dos eixos rodoviários referidos. A partilha do espaço entre peões, bicicletas e veículos motorizados é recomendável quando a velocidade é reduzida, como são os casos de bairros residenciais e zonas históricas ou centros de cidades. Para os casos em que a velocidade seja moderada, deve ter-se em conta a noção de espaço Vital do Utilizador de bicicleta, correspondente à margem que lhe permite ser ultrapassado em segurança, sem influenciar a sua trajectória e sem afectar o seu conforto. A par dos melhoramentos relacionados com a circulação de bicicletas, é igualmente necessária uma melhoria nos transportes colectivos, de modo a tornarem-se eles próprios uma marca de qualidade, apelativa a um universo maior de pessoas. Ao torná-los mais confortáveis, seguros, regulares e pontuais, com ligações que sirvam os destinos habituais e um maior funcionamento em rede, permitindo simultaneamente a complementaridade com a bicicleta, possibilitando o seu transporte gratuito e disponibilizando condições de parqueamento e de acesso aos terminais multi-modais... a bicicleta contribui para o alargamento da área de influência das redes de transporte colectivo.
A promoção da bicicleta exige um empenho dos órgãos governativos e da sociedade em geral, na busca de uma mudança dos valores e da imagem associada ao seu uso. ...LIFE MACHINE um bom slogan para a alteração de hábitos e criação de um conceito saudável de transporte urbano.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O HOMEM PARANOIDE

... acabei de escrever a dissertação de mestrado, agora, espero pelo abalo positivo do orientador... sinto-me envolvido por um tédio visceral... preciso de trabalho urgentemente... parto para a elaboração do portefólio, curriculum, reúno os "Gigas" de informação e trabalho produzido, reparo numa evolução constante e relativamente sustentada da minha pessoa, sorrio, mas,.... vejo ao fundo um mercado de trabalho atrofiado e completamente canibal! Assusta-me, no tipo de Homem que me tornarei... Sim!? Este passo é grande... Ao longo deste ultimo ano tive oportunidade de reflectir sobre a sociedade actual e o espaço urbano, sobre este Homem que hoje vive dentro de múltiplas identidades deslizantes, Homem plural, que é chamado a reflectir sobre os mais variados temas, nunca com resposta clara e objectiva, numa realidade cada vez mais complexa e com maior número de variáveis. Homem que vive com a necessidade cada vez mais urgente de organizar muita informação e de realizar tarefas com grande rapidez e eficiência. Este Homem, convive com um processo de desertificação, tanto físico como anímico.
Deserto que pode ser analisado como o resultado de uma dinâmica onde o Homem percebe a sua humanidade na razão directa da sua capacidade para dominar a natureza e os outros Homens, sendo incapaz de reconhecer a sua limitação!... um homem que cria, recria, modifica, explora coloniza, domina, mas, é cada vez mais escravo da sua criação por estar preso à vontade crescente de dominar o mundo, o Homem Paranoide!
Homem que modifica a natureza segundo o seu desejo de domínio, que concebe tecnologias cada vez mais avançadas e um meio ambiente cada vez mais artificial, é também produto daquilo que cria, um objecto do progresso que convive com a angústia da solidão. Sente-se inadaptado à situação presente da cidade, que o conduz a uma tentativa de construção da experiência fora dos paradigmas estabelecidos, como que numa vontade permanente de por à prova um sistema cuja falência antevê, dado o carácter inumano que esta alcançou, pela colocação de prioridades que, em vez de contribuírem para o bem-estar geral, servem os interesses de poucos. O que origina um colapso na fé dos grandes sistemas filosóficos explicativos como promotores de uma melhor compreensão do mundo e uma descredibilização do nosso sistema político, para a qual contribui a crescente marginalização social de vários segmentos da população mundial. A coexistência de altos níveis de desemprego, a degradação dos grandes centros urbanos, cria uma frustração social generalizada, que abala profundamente a crença do Homem contemporâneo na efectiva realização dos seus ideais. Levando-me a acreditar que o grande paradoxo social actual é o Homem conviver dia a dia com uma grande quantidade de pessoas e ao mesmo tempo sentir-se solitário.
MAS QUE RAIO???!!!