quinta-feira, 1 de outubro de 2009

HORTAS URBANAS como elemento morfológico da cidade


UM PEDIDO...

“Hoje a Natureza do campo encontra-se assediada, e é tão escassa na cidade, que se converteu em algo valioso” in, Design with Nature, Ian Mcharg

Actualmente, certas franjas da sociedade persistem, teimosamente, no cultivo de produtos hortícolas ocupando vazios deixados pelo atravessamento de grandes infra-estruturas rodo e ferroviárias, terrenos expectantes, taludes sem vocação urbanística, espaços de ninguém e sem valor aparente, originando o fenómeno das Hortas de Lata.

Av. General Norton de Matos - Lisboa - Hortas Clandestinas

Este fenómeno é um pedido das comunidades que perderam o contacto com a terra, é o principal sintoma de um certo vazio doutrinário do planeamento urbano que tem vindo a menosprezar o elevado potencial da horta como elemento estruturante do espaço urbano.

Cabe ao arquitecto responder a este pedido, através do desenho urbano, corrigindo e rentabilizando o solo, assegurando à cidade um desenvolvimento harmonioso e sustentável.

PAPEL DA HORTA URBANA NA ORGANIZAÇÃO DA CIDADE

“Nós dependemos de um sistema de civilização e de cultura que tem dois subsistemas: um edificado e outro (…) com materiais vivos. Com a predominância de um sobre o outro, que está a verificar-se, criam-se problemas terríveis a nível do planeamento do território, instaurando-se o caos” in, Engenharia e Vida nº 12, Gonçalo Ribeiro Telles

Na cidade tradicional, o desenho urbano assimila o parcelamento e a divisão cadastral, separando o solo privado do solo público. No urbanismo moderno o estado detém a totalidade do solo que urbaniza sem redivisão fundiária ou privatizando apenas os espaços de implantação do edifício, isto dá origem a que os arquitectos ao intervir no interior de uma propriedade a completam na totalidade, onde a tarefa é facilitada pela livre disposição dos edifícios, levando a que o bairro não seja mais que o resultado da forma da parcela. Esta disposição e forma de fazer cidade pretende dar aos habitantes um máximo de solo livre, no entanto, esta atitude provocou o isolamento, individualização e consequentes conflitos gerados pela perda de interacção social dos habitantes da urbe.

A Horta Urbana deve assumir um papel relevante na ocupação do território, numa simbiose entre a cidade tradicional e a cidade moderna. Onde o estado ao deter a totalidade dos espaços deve fazer uma divisão fundiária de forma a potenciar o aparecimento das hortas. Esta divisão fundiária deve ter em conta zonas de terrenos expectantes, vazios deixados pelas infra-estruturas ou cursos de água, taludes sem vocação urbanística mas, também espaços centrais da cidade elevando a horta a equipamento comunitário.


HORTA URBANA COMO EQUIPAMENTO COMUNITÁRIO

O plano de desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), no seu programa Habitat 2, diz que o problema mais importante das cidades do séc. XXI, nomeadamente, das do terceiro mundo, é a falta do fomento da agricultura urbana. Este estímulo deve passar por estruturas centralizadoras da cidade.

O equipamento constitui um conjunto base que define as duplas condições de uma gestão pública, é um elemento centralidade: no domínio da sociologia da cidade e, no plano arquitectónico na produção de espaços colectivos.

Ao assumir a Horta Urbana como equipamento comunitário dá-se à cidade um espaço que privilegia a interacção social, a qualidade ambiental da cidade e acima de tudo é uma infra-estrutura de custos extraordinariamente reduzidos e com um grande potencial de retorno na vida económica das famílias. È necessário repensar o papel destas infra-estruturas como elementos de inovação urbana, com a possibilidade de conferir sentido e oportunidade a áreas negligenciadas e de difícil manutenção. Dotando-as de zonas de lazer, espaços de articulação, convívio comunitário que enriqueçam a vida das cidades e a saúde dos seus habitantes.

South Central Los Angeles - USA - Hortas Comunitária

Como estudo de caso podemos nos debruçar sobre uma Horta Urbana em Los Angeles, um produto da população hispana da cidade e um exemplo do potencial comunitário destas infra-estruturas. Incentivar as pessoas a ter uma dieta composta principalmente de produtos frescos, locais , orgânicos podendo fazer crescer os próprios alimentos num espaço urbano. Arquitectura como educação e geradora de novos modos de vida.

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